quarta-feira, 15 de outubro de 2008

ASSÍRIA - Heb. ’Ashshûr; Acádia Ashshur; Egipto ’Iswr; Fenícia ’Shr.


A grafia inglesa é uma transliteração do Gr. Assuria. Um país situado no Tigre Superior, na Mesopotâmea, assim como o império governado pelos assírios. O nome tornou-se tão vincadamente num sinónimo de governo imperial nessa região, que os babilónios e, mais tarde, os persas, que sucederam à Assíria como poderes mundiais, foram ocasionalmente apelidados de “assírios” (Lm 5:6; Ed 6:22). É por esta mesma razão que os governantes seleucidas foram apelidados de assírios num documento pertencente aos famosos manuscritos do Mar Morto.
A Assíria tinha a sua fronteira sul no Zabe Inferior (Zabe Menor ou Baixo Zabe), um tributário do Tigre. Perto da nascente do Zabe Inferior e na margem direita (ocidental) do Tigre, fica Assur, a primeira capital da Assíria (a cidade de Assur não deve ser confundida com o termo Assur usado na Bíblia e que se refere à Assíria como país, ou aos assírios). A partir daí, a Assíria expandiu-se para noroeste, ao longo do Rio Tigre e por cerca de 130 km. As suas cidades mais importantes situavam-se na margem esquerda deste rio: Kar-Tukulti-Ninurta, a norte de Assur, Calah, Niníve e Dur-Sharrukin. O país não era muito grande porque a oeste do rio ficava um deserto e a faixa de terra destinada à agricultura, situada entre o rio e as montanhas, a Este, era estreita e muito menos fértil do que o solo a sul da Mesopotâmea.
A escassez de terra pode ter sido responsável por algumas das características nacionais dos assírios. Eram um povo comercial empreendedor, aventureiros ousados, bravos guerreiros e organizadores talentosos. sul, os babilónios, embora não fossem desprovidos de talentos artísticos. As suas esculturas revelam uma mestria no manuseamento das pedras que eram fornecidas pelas montanhas próximas.
Os assírios eram semitas, tal como os babilónios e os arameus (Gn 10:22) e falavam uma língua que estava intimamente ligada à língua babilónica. Usavam também a escrita cuneiforme dos babilónios, com algumas modificações locais no que se referia à forma dos caracteres. Por altura do primeiro milénio AC, quando os assírios entraram em contacto com os hebreus na Palestina, já tinham perdido a sua pureza racial porque, na governação de todo o império, eles tinham absorvido muitos dos povos subjugados e, por isso, mostravam uma grande mistura na sua aparência e características.
A religião dos assírios - Sendo semitas, os assírios tinham muitos deuses em comum com outras nações semíticas, nomeadamente com os babilónios. Adoravam as grandes deidades babilónicas, tais como Shamash, o deus-sol; Sin, o deus-lua; Ea, o deus das águas e Ishtar, a grande deusa da fertilidade. Também honravam Aru, Marduk (Bel) e o seu filho Nabu (Nebo). Contudo, o principal deus dos assírios era Assur, que não pertencia ao panteão babilónico. Assur era representado por um sol alado que protegia e guiava o rei, o seu principal servo. Era também simbolizado por uma árvore, representando a fertilidade. No entanto, ele era, antes de mais, o deus da guerra e a guerra tornou-se parte integrante da religião dos assírios. Cada campanha militar era pensada para ser levada a cabo em resposta às ordens directas de Assur. Assim, a participação na guerra era um acto de adoração. Esta associação de Assur com as campanhas militares dos assírios explica o facto de o culto a Assur ter desaparecido com a destruição do Império Assírio, contrastando com os cultos dos deuses das outras nações que sobreviveram à destruição do seu povo. Por exemplo, Marduk, o deus patrono dos babilónios, permaneceu como deidade principal do Vale Mesopotâmico durante a ocupação persa mas Assur nunca reapareceu no mundo antigo após a captura e destruição de Niníve.
O Período Pré-Imperial - Uma breve alegação em Gn 10:11, 12 mostra que as cidades assírias devem a sua existência a uma extensão do poder no início do Império Babilónico. Mq 5:6 chama à Assíria “a terra de Ninrode”, que foi quem deu origem ao primeiro império, operando a partir da Baixa Mesopotâmea. Na história secular, a Assíria aparece pela primeira vez no século XIX AC como um vassalo do reino do sul, ligado aos reis mesopotâmeos. A partir daí, envolveram-se numa luta constante pela independência, pela supremacia e, por vezes, por obterem poder imperial sobre as outras nações. Os seus governantes mais ambiciosos, nos primeiros tempos da sua história, foram Sargon I (1780 AC) e Samsi-Adade I (1749-1717 AC), um amorreu que estendeu a sua influência militar e política à Anatólia e à Síria. Depois, seguiu-se uma guerra contra os horreus e os heteus, das quais, após alguns reveses, a Assíria emergiu como sobrevivente.
Durante a última parte do segundo milénio AC, vários governantes assírios, fortes e ambiciosos, tentaram estabelecer um império e conseguiram-no, embora que apenas brevemente. De entre eles, poderão ser mencionados: Adad-nirari I (1306-1274 AC), que derrotou Babilónia e realizou campanhas militares a Este e no Norte, obtendo um enorme sucesso; Tukulti-Ninurta I (1244-1207 AC), que derrotou também os babilónios e capturou a sua capital, obtendo ainda algumas vitórias contra Elão, os arameus e os urárcios; e Tiglath-Pileser I (1113-1074 AC), que estabeleceu o seu reino sobre uma área que ia desde o Golfo Pérsico até ao Mar Mediterrâneo. Seguiram-se vários governantes fracos, cujo poder dificilmente ultrapassou as fronteiras do país.
O Período Imperial - Contudo, cerca de 150 anos após a morte de Tiglath-Pileser, a Assíria foi, durante cerca de 300 anos (desde 933 até pouco antes de 612 AC), a nação mais poderoso da terra. Estabeleceu um império que cobria toda a Mesopotâmea, a maior parte dos seus países vizinhos, grandes faixas da Anatólia, toda a Síria e Palestina e até, durante algum tempo, o Egipto. Foi nesse período que a Assíria entrou em contacto com os hebreus e terá eventualmente destruído o reino do norte de Israel. Por isso, encontramos vários reis assírios mencionados na Bíblia e onze reis hebreus mencionados em registos assírios (Onri, Acabe, Jeú, Joás, Menaem, Peca e Oséias de Israel; Jotão, Acaz, Ezequias e Manassés de Judá).
O primeiro governante forte deste novo período foi Assur-Dan I (933-910 AC), que conquistou o norte da Mesopotâmea. No seu tempo, os exércitos assírios encontravam-se em guerra contra países estrangeiros praticamente todos os anos e tal situação continuou durante vários séculos. Rios de sangue foram derramados e os cadáveres empilhados assemelhavam-se a montanhas, para utilizar algumas das expressões assírias. O primeiro destes cruéis reis assírios do período imperial a entrar em contacto com Israel foi Salmanezer III (859-824 AC). Ao lutar contra uma aliança de reis sírios em Qarqar, em 853 AC, encontrou-se com o rei Acabe, que lhe forneceu 2000 carros e 10.000 soldados. O mesmo rei assírio regista que, doze anos mais tarde, recebeu tributo do rei Jeú, de Israel e o seu Obelisco Negro mostra Jeú ajoelhando-se perante ele. Durante o seu longo reinado de 35 anos, este rei assírio fez campanhas em praticamente todos os países à sua volta, estabelecendo o seu domínio sobre esses territórios. Seguiram-lhe vários reis fracos e, nos oitenta anos seguintes, o império perdeu muita da sua força sobre as nações subjugadas. Isto não significa que a Assíria não tivesse qualquer poder durante este período, pois as campanhas militares ocasionalmente atingiam Damasco, que Adadnirari III (810-782 AC) conquistara a Hazael, tendo também recebido tributo do rei Joás, de Israel; mas os sucessos militares assírios não foram permanentes. Deve ter sido neste período, provavelmente no reinado de Adadnirari III, que Jonas levou a cabo a sua missão em Ninive. Este período de fraqueza da Assíria foi aproveitado por Jeroboão II , um forte governante israelita, que recuperou o controlo dos territórios que lhes tinham escapado desde o tempo de Salomão.
Contudo, os assírios conseguiram um regresso espectacular com a subida ao trono de Tiglath-Pileser III (745-727 AC). Ele foi um grande monarca. Reconstruiu o império e procurou soluções para todos os males que assolavam o seu país, restabelecendo sistematicamente o poder assírio sobre os países vizinhos. A Babilónia foi muitas vezes conquistada, tornando-se num reino vassalo dos assírios mas estes também perderam muitas vezes o poder que mantinham sobre os babilónios. Para evitar nova perda, Tiglath-Pileser uniu definitivamente a Babilónia à Assíria, coroando-se a si próprio como rei da Babilónia, adoptando o nome de Pul. Esta foi a primeira vez que um rei assírio tentou algo no género. Estabeleceu também um controlo firme sobre a Síria e partes da Palestina, destruiu muitas cidades-estado como, por exemplo, Damasco e reorganizou as áreas conquistadas, transformando-as em províncias assírias. As populações foram transportadas para outras áreas do império e os seus territórios foram povoados com pessoas de outros países subjugados. A área norte, a área ocidental e as regiões transjordanas do reino de Israel foram desmembradas e transformadas em três províncias assírias. A área ocidental tornou-se na província de Du’ru (Dor), a área norte ficou conhecida como província de Magidû (Megido) e a área Este do Jordão passou a ser a província de Gal’aza (Gileade). Os cativos foram deportados. O que restou do país, tendo Samaria como capital, transformou-se num pequeno estado vassalo. Acaz, o rei de Judá, voluntariamente se dobrou perante o rei da Assíria, tornando-se seu vassalo. Tiglath-Pileser conseguiu uma outra grande vitória, quando subjugou Urartu, um estado situado a norte e que, no passado, causara imensos problemas à Assíria.
Salmanezer V (727-722 AC), sucessor de Tiglath-Pileser III, reinou durante pouco tempo mas copiou os métodos do seu predecessor em matéria de guerra e governação. Ocupou o trono da Babilónia sob o nome de Ululai e, com força e determinação, fez um acordo com os reis ocidentais (entre os quais se encontrava Israel) que tinham cessado de pagar tributo. Samaria foi cercada durante três anos (inclusive) e capturada provavelmente pouco antes da morte do rei. A tarefa de deportação dos israelitas e repovoamento do território com pessoas de outras áreas recaiu sobre Sargon II, o seu sucessor. Sargon II declarou que ele conquistara Samaria no primeiro ano do seu reinado.
Sargon II (722-705 AC) foi provavelmente um usurpador, embora ele se apelidasse de “filho de Tiglath-Pileser”. Rei forte, ultrapassou grandes dificuldades durante o seu reinado. Nas suas inúmeras campanhas militares, ele derrotou os elamitas a Este, Marduk-apal-iddina (o Merodaque-Baladã bíblico) da Babilónia, a sul, os urarteus e os arameus no norte e a noroeste. Construiu uma nova capital, Dur-Sharrukin, agora Khorsabad, a alguns quilómetros a norte de Ninive. Este foi o primeiro palácio assírio a revelar os seus tesouros aos arqueólogos modernos.
Senaqueribe (705-681 AC), filho de Sargon II, mostrou um grande interesse pelos melhoramentos técnicos das suas máquinas de guerra. Reconstruiu Ninive e transformou-a na mais gloriosa cidade do seu tempo, introduzindo novos métodos de construção. Implacável e irreconciliável, Senaqueribe cometeu alguns erros políticos, tal como a destruição, sem sentido, de Babilónia em 689 AC, a fim de pôr cobro às contínuas rebeliões daquela cidade. Por causa das suas políticas, tornou-se no homem mais odiado da sua era. Também nem sempre foi bem sucedido nas suas negociações com o Oeste. Em 701 AC, ele esmagou uma rebelião intentada por príncipes sírios e palestinianos e depois foi fazer guerra a Ezequias, que poderá ter sido o líder dessa rebelião. Destruiu muitas cidades de Judá, incluindo a cidade fortificada de Laquis, cujo cerco e captura são descritos em toda uma série de relevos do palácio da Assíria e que se encontram agora no Museu Britânico. Jerusalém foi salva quando Senaqueribe teve que dar por terminada a sua campanha militar aí, pois o seu exército era preciso, com urgência, num outro local. Mais tarde, quando Nubian Tirhakah (Taharka) ascendeu do Egipto, Senaqueribe voltou com a intenção de destruir o reino de Ezequias. Esta campanha terminou em desgraça - circunstâncias que levaram à sua omissão dos anais do rei. A Bíblia, contudo, menciona a campanha (2Rs 19; 2Cr 32; Is 37) e a sua memória parece ter sido preservada numa história contada a Herodoto, no Egipto, mais de dois séculos depois. O rei foi morto pelos próprios filhos, um evento registado tanto na Bíblia como em inscrições assírias e babilónicas.
Esaradon (681-669 AC), um filho de Senaqueribe que não se envolvera no assassínio do pai, ascendeu ao trono. A grande façanha do seu reinado foi a bem sucedida campanha militar contra o Egipto, que fez com que o Império Assírio atingisse a sua maior extensão. Contudo, surgiram alguns problemas nas regiões fronteiriças, onde nações bárbaras, tais como os Cimérios e os Medos, tentaram apoderar-se de algumas secções do território assírio, a fim de conseguirem alguma da sua riqueza. Esaradon conseguiu rechaçar estas nações mas não eliminou totalmente a ameaça que eles constituíam. No reinado do seu filho Asurbanipal (669-627(?) aC), o império encontrava-se no mais alto da sua glória e extensão mas já eram visíveis sinais definitivos de fraqueza, que prefiguravam o rápido declínio e destruição do império. O Egipto, que se revoltara nos últimos anos do reinado do seu pai, foi, mais uma vez, subjugada e Tebes, a maior cidade do mundo nesse tempo, foi saqueada. Babilónia, liderada por Shamash-Shum-Ukim, o irmão de Asurbanipal, também se revoltou mas a revolta foi esmagada. Para além dos seus sucessos militares, Asurbanipal é conhecido como fundador da sua grande biblioteca em Ninive. Esta biblioteca, composta por milhares de tabuínhas de barro, que agora se encontram no Museu Britânico, tem sido a maior fonte de informação para a reconstrução da civilização, história e literatura assírias.
São poucos os detalhes sobre os últimos anos do Império Assírio, por falta de registos históricos claros. Foram dois os filhos de Asurbanipal que reinaram alguns anos depois dele mas não foram capazes de enfrentar as forças que se juntaram contra o Império Assírio, em especial os Babilónios e os Medos. Os primeiros, que se tinham declarado independentes no reinado de Nabopolassar, em 626 AC, mantiveram-se quase em guerra contínua contra os assírios. Em 614 AC, os Medos, sob as ordens de Ciaxares, destruíram a cidade de Assur e Ninive partilhou do mesmo destino dois anos mais tarde, quando caiu sob os exércitos combinados de Ciaxares e Nabopolassar. O último rei da Assíria, um certo Ashur-uballit II, conseguiu juntar à sua volta o que restava do exército assírio e retirou-se para Harã, fazendo dela a capital durante algum tempo. Contudo, os babilónios não tardaram a desalojá-lo da cidade e, desta forma, os assírios desapareceram da história

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